20 de abril de 2007

Capítulo 04

Tapas, água, e um “ - Acorda aí, ô pé-de-cana” depois... Desperto, meio grogue, meio tonto, a visão meio embaçada, uma dor na barriga, que parecia rígida. Na garganta um gosto de vômito e uma sensação de que havia engolido uma escova de cabelos. Olheiras, abatido, suado, sujo, molhado, despenteado, fui acordado por Pedro.

Talvez ele tenha evitado uma morte prematura, eu poderia morrer sufocado com um possível vomito, me restava agradecer.

– Cara, sei que minha imagem não inspira muita consideração ao que digo, mas, nem sei como te agradecer, eu estaria na merda se não fosse por você.

Ao que ele respondeu

- Relaxa! Foi um golpe de sorte. Meu estado também não era dos mais exemplares, mas eu sempre te vejo ir e vir por aqui. O vi lá naquelas e como vivo aqui também, nada me custava.

- Vive aqui?

- Isso. Moro com minha família lá em cima... Bom, pelo menos com o que restou dela.


Eu já havia visto aquele sujeito circulando pelo prédio antes, mas não esperava que ele também vivesse naquele maldito covil, havia um pouco de vida lá afinal.
Durante essa conversa ele anda pelo apartamento como quem busca alguma coisa incansavelmente. Parece que achou.

- Hei! São discos de Jazz! E um Piano!

Respondi, com a cabeça ainda doendo:

- É. Discos velhos e um piano sujo e desafinado.

- Velharia? Você tem é uns bons clássicos aqui, rapaz... Ah é! Seu nome. Qual é?

- Me chamo Ricardo. Você é Pedro, né? Já me falaram de você antes, mas achei que aquele velho maluco reclamava até de visitantes.

- Você também não gosta do Paulo? Aquele velho é retardado, só pode ser isso. Reclama de barulho em horário permitido, o filho da puta ficava me censurando quando eu estudava percussão lá no apê.

Daí para adiante, não foi preciso muito mais. Ele era um músico jovem, com revoltas parecidas as minhas, ao menos as do prédio. Em pouco tempo já estávamos em meio a uma conversa enorme sobre jazz, música e de como tudo é tão descartável.

Pedro era conhecedor da boa musica, gostava de Jazz, Rock, conhecia o maracatu e admirava ritmos como a salsa, um percussionista de verdade.

Enfim havia vida naquele prédio.

Um comentário:

Íris S. Lovett disse...

ééé, como diria Nietzsche:
"a vida nao faria sentido sem a música."
essas unioes sao basicas...
aguardo pelo proximo capitulo *__*
te adoro =0)