17 de maio de 2007

Capítulo 08

“ – Corre!”

E corremos, corremos muito, corremos como nunca havíamos corrido antes na vida. A subversão do que poderia, por uns, ser chamado de arte e que é tido como vandalismo pela maioria, pura moralidade. Quem é moral? O que é moral?!

Pedro parecia conhecer os caminhos obscuros daquela cidade como a palma da própria mão, todas as ruas, vielas e caminhos esdrúxulos que existem e não vemos à luz do dia. Ou preferíamos não ver.

Corríamos, fomos perseguidos durante muito tempo. Mas Pedro me conduzia por lugares por onde aquela viatura não podia chegar. Aquela lata velha caía aos pedaços, mas parecia resistir bravamente. Tinha gana de gente e assustava como gente.

Calor, tensão, suor, entramos em um beco que saia em uma ruela. Dois polícias nos perseguiam. A essas alturas já havíamos largado nossas latas e luvas, tínhamos nossas mochilas e trajávamos luto a fim de camuflar-nos no breu da noite.

“ – Aqui! Rápido.”

Após esse comando de meu amigo, o segui. Nos escondemos atrás de caixotes velhos de um aviário falido e abandonado. Agora a tensão reinava, a respiração era pesada, ofegante. As mãos, as pernas, os joelhos, até mesmo os olhos tremiam. O simples ruído da respiração podia despertar a atenção de nossos possíveis algozes. Comunicávamos por olhares e gestos com a cabeça.

Ouvíamos os passos e os “Splash” dos coturnos nas poças d’água.
"Eles passaram direto".

No mesmo instante corremos para outro lugar distante dali. Pedro sugeriu que comemorássemos, tomássemos alguma coisa em algum lugar. Segui com minha saga rumando a extravagância, precisava extravasar. A raiva ainda me consumia.

Começamos a caminhar pela cidade baixa. Ruelas sujas, bêbados, putas... A cidade pulsava como coração e espírito jovem, e, talvez por isso, inconseqüente. Encontramos uma casa, um bar, botequim, ou sei lá o que era aquilo. Havia uma banda tocando, músicos ruins que eram parte de um cenário medíocre como todo o resto da cidade. Entramos na tal casa. E começamos a beber. A bebida era ruim, forte e barata, a receita perfeita.

A tal banda tocava umas músicas porcas, sujas. Era rock, embora mal-feito, era rápido e cru. Foi aí que decidimos ir à frente do tablado, onde pessoas se aglomeravam em busca de não-se-sabe-bem-o-que.
Com o fim da apresentação, a aglomeração se desfaz. Eu e Pedro estávamos cansados, abatidos, suados.

Viro-me pro lado e avisto uma morena. Cabelos curtos, roupas justas...

“- Oi, morena. Já devem ter te elogiado hoje, não serei chato, mas vou perguntar seu nome. Qual é a sua graça”?

“ – Olá barbudinho! Eu me chamo Carine! E você? Qual seu nome?”

Um comentário:

Pitty Balk disse...

perigos?
pq gostamos tanto deles?